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Festival Terras sem Sombra fecha 11.ª edição com obra-prima de Verdi: Requiem


15 de junho 2015

Concerto de encerramento em Beja.       

Iniciada em março, a edição de 2015 do Terras sem Sombra tem decorrido, a um ritmo quinzenal, visitando os monumentos religiosos da Diocese de Beja. O programa em curso destaca-se pela coerência e pela qualidade dos repertórios centrados na música sacra da Europa do Sul, da Idade Média à vanguarda dos nossos dias, com ênfase para compositores fundamentais de Espanha, França, Itália e Malta, dando uma atenção muito particular a Portugal.

Esta viagem no espaço e no tempo atinge o zénite, em Beja, numa iniciativa que une os esforços da Diocese e do Município, com o concerto sob o título “A Força da Serenidade: Música para o Fim dos Tempos”, que terá lugar dia 20, às 21h30, na igreja de Santa Maria da Feira. Em palco, a Orquestra do Norte e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, dirigidos pelo maestro José Ferreira Lobo. Solistas, a soprano Cristiana Oliveira, a meio-soprano Cátia Moreso, o tenor Vicente Ombuena e o barítono Rui Silva.

 

Entre as 28 óperas de Giuseppe Verdi, figura uma rara e magnífica incursão por outro género, ao qual também imprimiu o seu génio dramático: a música religiosa, em que sobressai o Requiem, escrito em 1869-74, uma das mais comoventes e impressionantes obras sacras do século XIX. Como explicou Alexandre Delgado, surgiu numa época em que a música sacra perdera – com honrosas e esporádicas exceções – a vitalidade dos séculos anteriores. A maioria dos compositores italianos só escrevia missas em contextos específicos, académicos ou utilitários, usando contraponto arcaico nos coros, e bel canto nos solos. Verdi, sempre genial, revolucionou a tradição e concebeu o seu Requiem para grande orquestra, quarteto de cantores solistas e coro duplo.

Após a Missa Solemnis, de Beethoven (1824), só uma obra poderia ter servido de exemplo à conceção dramática de Verdi: a Grande Messe des Morts, de Berlioz (1837). Mas é indiscutível que o quadro por ele traçado revela uma força expressiva e de uma dimensão espiritual a que ainda hoje o público de todos os quadrantes culturais não pode deixar de reagir com uma emoção profunda. Talvez por isso, esta obra protagonizou, de forma emblemática, um dos maiores dramas contemporâneos em 1943-44, quando os prisioneiros judeus do campo de concentração nazi de Theresienztadt a interpretaram no cativeiro, sob a direção do maestro checo Raphael Schächter. A música de Verdi, com a sua mensagem de esperança na salvação eterna dos oprimidos e de certeza do castigo para os opressores, deu corpo e voz ideais a uma espantosa afirmação de dignidade humana e de grandeza espiritual por entre as trevas da barbárie. Algo bem compreensível nos nossos dias.

Uma característica do Festival Terras sem Sombra reside no cruzamento das páginas musicais do passado e da criação contemporânea. Em Beja, o Requiem será antecedido por Noturno, a única obra orquestral de um brilhante autor português, António Fragoso, terminada em 1918. Ao lado de nomes como Francisco de Lacerda, Luís Costa e Luís de Freitas Branco, Fragoso pertence ao reduzido número de compositores nacionais que exploraram a linguagem impressionista nas primeiras décadas do século XX. O facto de ter morrido aos 21 anos, vítima da gripe pneumónica, torna tanto mais surpreendente a qualidade e o arejamento estético da sua produção.

 

Intérpretes excecionais para um repertório de exceção

Desde 1992 que a Orquestra do Norte concretiza um vasto projeto de descentralização cultural, tendo-se afirmado, de modo pioneiro, no panorama da música erudita, nacional e internacionalmente. Servindo o grande repertório orquestral, desde o Barroco até ao presente, os objetivos básicos pelos quais sempre se pautou a sua atividade passam pela criação de novos públicos, pelo apoio à música e aos músicos portugueses e pela constante renovação do repertório.

Fundado em 1943, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos é um dos mais reputados corpos artísticos do país. Tem atuado sob a direção de Antonino Votto, Tullio Serafin, Vittorio Gui, Carlo Maria Giulini, Oliviero de Fabritiis, Otto Klemperer, Molinari-Pradelli, Franco Ghione, Alberto Erede, Alberto Zedda, Georg Solti, Nello Santi, Nicola Rescigno, Bruno Bartoletti, Heinrich Hollreiser, Richard Bonynge, García Navarro, Wolfgang Rennert, Rafael Frühbeck de Burgos, Franco Ferraris, James Conlon, Harry Christophers, Michel Plasson e Marc Minkowski, além dos mais importantes maestros portugueses, com relevo para Pedro de Freitas Branco.

O maestro José Ferreira Lobo destaca-se como um excecional intérprete verdiano. Começou a sua atividade profissional, em 1979, como diretor da Camerata do Porto, que fundou com Madalena Sá e Costa. Apresentou-se em algumas das principais salas de concerto do mundo, entre elas Munique, Zurique, Cairo, Hong Kong, Pequim, Montevideu, Brasília, Caracas, Filarmonia de Vilnius, Praga e São Petersburgo. Interpretou ainda música sacra na igreja da Madeleine, em Paris, na catedral de Catânia (Festival Bellini) e na colegiada de Orsanmichele, em Florença.

Cristiana Oliveira (soprano), Cátia Moreso (meio-soprano) e Rui Silva (barítono) são figuras destacadas da cena operática portuguesa, com carreiras premiadas internacionalmente e que se projetam em influentes palcos europeus. O tenor espanhol Vicente Ombuena estreou-se no Teatro alla Scala, de Milão, com Don Pasquale, sob a direção de Riccardo Muti. Intérprete de vasta discografia, já atuou com Claudio Abbado, Daniel Baremboim, Riccardo Chailly, Sir Colin Davis, Giuseppe Sinopoli, Jesús López-Cobos e Rafael Frühbeck de Burgos.

 

Ao longo do Caminho de Santiago – Percorrendo a “Grande Via” de Beja ao Mar

Domingo, às 9h30, músicos, espectadores e membros da comunidade local serão os voluntários de mais uma iniciativa vocacionada para a salvaguarda da biodiversidade, em parceria do Festival Terras sem Sombra com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e o Município de Beja. O foco de atenção dirige-se, desta vez, para os recursos naturais e para o património cultural do vale do Guadiana, um dos santuários da biodiversidade peninsular.

Mértola foi, até ao final da Idade Média, o porto de Beja. O caminho que liga estas duas localidades, cuja origem se perde no tempo, atravessou os períodos de ocupação romana e muçulmana da Península Ibérica. Passava por Corte Gafo, Amendoeira-Mosteiro e Salvada, de onde seguia para Beja ou, em alternativa, para aos vaus do Guadiana em direção a Serpa. É precisamente ao redor do “porto da Salvada”, passagem na ribeira de Terges-Cobres, fronteira entre concelhos e em pleno coração do Parque Natural do Vale do Guadiana, que se desenvolve esta atividade. Ao longo de um percurso será explorada a biodiversidade noturna de Terges-Cobres, com realce para os seus anfíbios, mamíferos e aves. Estará igualmente presente a evocação da passagem dos peregrinos, antigos e modernos, em direção a Compostela.

 

 

 

Imagens relacionadas:  ver

https://www.flickr.com/photos/festivalterrassemsombra/sets/72157654600592915

 

Orquestra do Norte

Coro do Teatro Nacional de São Carlos

Maestro José Ferreira Lobo

Cristiana Oliveira (soprano)

Cátia Moreso (meio-soprano)

Vicente Ombuena (tenor)

Rui Silva (barítono)